Existem hoje diversas recomendações sanitárias relativas aos cuidados que devemos tomar para evitar a propagação do covid-19. Nos séculos passados, entretanto, tais recomendações seriam muito difíceis de se pôr em prática, tanto por causa das tecnologias disponíveis na época, quanto devido ao imaginário e aos hábitos de sociabilidade e higiene em voga no período.
Que tal fazer um passeio virtual pelo Museu do Diamante refletindo sobre essas questões?
Água encanada e saneamento básico são invenções muito recentes. Nos séculos passados, a água para a higiene e para as diversas tarefas domésticas era buscada nos chafarizes públicos, ou em córregos que abasteciam os quintais daqueles mais afortunados. Tarefas simples do dia a dia como usar o banheiro envolviam hábitos que hoje nos parecem repugnantes: a cadeira sanitária, por exemplo, era um artigo de luxo na época. Um penico era inserido em seu interior e tinha de ser manualmente limpo após o uso.

CADEIRA FURADA (USO MASCULINO) – Material/Técnica: madeira/ marcenaria/ torneado
Produção: Minas Gerais – Séc. XIX

A alcova é um cômodo muito comum nas moradias lusobrasileiras do período colonial, caracterizado por não possuir janelas. De acordo com os padrões sanitários da época, a ventilação era considerada um fator de risco, que trazia miasmas e doenças. Por essa razão, era comum que os enfermos permanecessem nesses recintos, durante a convalescença. Só a partir de meados século XIX é que a ventilação natural e a entrada de luz passaram a ser valores positivos para a salubridade dos ambientes, segundo os parâmetros sanitários e científicos.

Produção:Minas Gerais – Séc. XIX.
As missas, procissões e eventos do calendário religioso eram, durante o período colonial, ocasiões muito importantes para a sociabilidade das pessoas e afirmação de status social. As procissões, por exemplo, eram extremamente concorridas – carregar os andores dos santos e ocupar os lugares de destaque eram honras disputadíssimas pelos fiéis.
Atualmente, devido à pandemia de covid-19, as igrejas e templos se encontram fechados, por serem locais de grandes aglomerações.
Como será que reagiriam nossos antepassados a proibições desse tipo? Se mesmo hoje, com o advento do estado laico e as recomendações sanitárias aprovadas pela ciência, ainda existe grande resistência à proibição das missas e cultos em virtude da pandemia, é provável que no período colonial, época em que o sentimento religioso dominava todas as esferas da existência, essa tarefa fosse ainda mais difícil.
Com a ausência de água encanada nas moradias, era preciso buscar e transportar a água dos chafarizes públicos. Os padrões de higiene eram muito distintos dos atuais, sendo comum encontrar nos quartos de dormir das elites objetos como a bacia e o gomil, usado para a higiene matutina das mãos e do rosto. Os banhos, entretanto, eram pouco frequentes, e o reaproveitamento da água para essa atividade era algo comum.

Material/Técnica: policromia/porcelana/queima/tinta
Autoria: Franz Ant. Mehlem – Séc. XIX.
Produção: Alemanha/Europa.

Autoria: John Broadmood & Sons – Séc XIX.
Durante o século XIX, as elites mineiras procuravam reproduzir em seu cotidiano os hábitos de lazer em voga na Europa. Entre eles, era comum a realização de saraus para muitos convidados, nos quais eram tocadas valsas, polcas, e outros gêneros da música de salão de origem europeia. Durante a pandemia de covid-19, é muito importante observar o distanciamento social, e mesmo assim muitas pessoas têm desobedecido tais regras promovendo festas e encontros em casa. Será que nossos antepassados se comportariam melhor diante dessa situação, ou não resistiriam à tentação de chamar os amigos para um sarau de música?
Conteúdo: Setor Educativo do Museu do Diamante/Ibram.