Entre os dias 26 de abril a 10 de maio de 2021, o Museu do Diamante/Ibram realiza nas suas redes sociais a Mostra Virtual “O trem passou por aqui”.
SOBRE A MOSTRA
A mostra virtual sobre a instalação do ramal ferroviário foi baseada em pesquisa documental realizada em jornais publicados em meados do século XIX e no início do XX: O Município e Sete Setembro, que se encontram na Biblioteca Antônio Torres, e pesquisa bibliográfica de trabalhos relacionados ao histórico das ferrovias no Brasil e em Diamantina.
SURGIMENTO DA PRIMEIRA LOCOMOTIVA
Atualmente, contamos com variadas formas de transportes de cargas e de pessoas, mas nem sempre foi assim. Os meios de transportes eram movidos por tração humana, animal ou pela força dos ventos e das águas, e ao longo da história da humanidade houve a evolução dos meios de locomoção.
Em 1814, surgiu a primeira locomotiva a vapor, a Blucher, fabricada pelo inglês George Stepheson, e em 1830 a primeira estação locomotiva, na Inglaterra, ligando Liverpool e Manchester, que marcou o início da “Era das Ferrovias”. Um dos grandes símbolos da Revolução Industrial que representavam a modernidade, o progresso e facilitaram a comunicação e o transporte de mercadorias e pessoas.
A expansão das ferrovias pelo mundo causou grandes transformações na sociedade, o fluxo facilitado de pessoas e mercadorias significou também diversas trocas entre as culturas e os costumes existentes.
INAUGURAÇÃO DA PRIMEIRA LOCOMOTIVA NO BRASIL
No Brasil, a primeira ferrovia foi inaugurada em 30 de abril de 1854, intitulada Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis.
O processo de implantação de ferrovias no Brasil começou no período imperial, de forma lenta, sendo que a partir de 1873 houve a expansão acelerada da malha ferroviária com irrefutáveis objetivos econômicos.
De acordo com Borges: “A finalidade do plano era restritamente econômica: propunha a ligação da Corte com as capitais das Províncias de Minas Gerais e São Paulo. Isto é, a interligação do porto do Rio de Janeiro às regiões potencialmente produtoras de bens primários que se integravam à economia agro-exportadora” (BORGES, 2011, p.4).
O RAMAL FERROVIÁRIO DE DIAMANTINA
Diamantina nos séculos XIX e XX passou por uma fase de afloramento industrial, porém não veio acompanhado de melhorias na infraestrutura, o comércio e as indústrias domésticas e fabris tiveram dentre outros obstáculos, as péssimas condições de transporte que tornava difícil e custoso o recebimento e envio de mercadorias e equipamentos, a instalação de ramais ferroviários era visto como a solução e saída para o progresso industrial e econômico. O jornal “O Municipio”, publicado em 1902, mostra a insatisfação e a reivindicação da classe empresarial com os meios de transportes:
O norte de Minas, no estado em que se acha, sem vias de comunicação fáceis, sem possuir sequer um palmo de estrada, a não ser os péssimos caminhos feitos pelo transito de animaes, é digno da atenção dos ilustres membros do Congresso Mineiro, que, por certo, não deixarão de acolher o justo pedido dos pedicionarios que, si construírem estradas romperão o grande obstáculo que, de há muitos anos, tem tolhido o desenvolvimento industrial e agrícola desta riquíssima e importante zona (O Município, 06/08/1902).
Os jornais, como O Municipio, foram utilizados constantemente para levar ao conhecimento das autoridades locais, estadual e federal as demandas da região do Norte de Minas. Podemos pressentir que as reivindicações para a construção do ramal ferroviário tinham fortes motivações econômicas e políticas. De acordo com Souza:
O apelo por estradas de ferro e por planos de viação tornaram se mais presentes a partir do advento da República. Com o regime republicano, ocorreu uma definição mais precisa acerca das competências federal e estadual no que tange as concessões de vias férreas. Por meio dessas concessões e subvenções, o Estado poderia, por exemplo, incentivar e controlar a formação de empresas de transporte ferroviário (SOUZA, 2018, p.76).
PARTE 2 DO VÍDEO DO RAMON FELIPHE SOUZA
Investimentos no setor ferroviário voltaram a ocorrer no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que investiu nesse setor e criou a Rede Ferroviária Federal através da Lei 3.115. No entanto, o sistema rodoviário era cada vez mais atrativo para os interesses do governo e dos capitais externos, pois estimulava a produção e a compra de automóveis, gerando emprego e fomentando a economia a partir de uma concepção desenvolvimentista. Em 1951 o Plano Nacional de Viação priorizou o sistema de transporte rodoviário, abandonando o desenvolvimento de outros meios de transporte, inclusive o ferroviário. Segundo Olímpio J. de Arroxelas Galvão:
O virtual abandono da idéia de se desenvolverem as outras modalidades de
transporte esteve sempre baseado na crença de que um moderno sistema de rodovias constituiria a forma mais rápida de se alcançar o grande objetivo nacional da integração social, econômica e política do país. A preferência pela rodovia teria sido, portanto, uma resposta à incapacidade revelada pelas outras modalidades de transporte para atenderem às aspirações nacionais, tendo em vista que os sistemas de transportes existentes eram considerados como inadequados, antiquados, ineficientes e absolutamente incapazes de responderem aos anseios nacionais da unificação territorial do país (GALVÃO, 1996, p.199).
As justificativas para o fracasso do sistema ferroviário no Brasil são amplas, mas destacamos que esse tipo de transporte, já em sua fase de declínio, não atraia mais investimento nacional e estrangeiro. Sua operacionalidade e expansão dependia de altos investimentos, e a ausência desse requisito levou a malha ferroviária brasileira ao sucateamento e desativação de vários ramais em todo o país.
Em Diamantina, o aclamado ramal ferroviário que interligava essa região a
Gouveia, Monjolos, Santo Hipólito, Curvelo e Corinto foi desativado em 1970.
Recentemente, a Prefeitura Municipal de Diamantina, considerando a
importância da Antiga Estação Ferroviária, apresentou o projeto para inclusão desse bem material no Programa de Parcerias de Investimento do Governo Federal, que tem por objetivo atrair investimentos nacionais e internacionais.
O antigo prédio da Estação Ferroviária de Diamantina, desde 1984, é a sede do Corpo de Bombeiros Militar, e é reconhecido pelo IPHAN como bem cultural. O prédio conserva as características arquitetônicas do período em que abrigava a Estação Ferroviária, sendo um imponente monumento histórico.
Fonte:
Site Estações Ferroviárias do Brasil. Disponível em
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_ramais/diamantina.htm
CONCLUSÃO
Desde o período imperial os meios transportes foram vistos como um
instrumento crucial para o desenvolvimento social e econômico, e as ferrovias foram percebidas como solução para interligar as mais distantes regiões brasileiras isoladas economicamente. O desenvolvimento social e econômico brasileiro tinha outros obstáculos que limitavam o seu crescimento, mas é de comum acordo que meios de transportes eficientes são um requisito para o bom desenvolvimento econômico, pois de nada adiantaria um país ser um grande produtor de bens de consumo se este possui um precário sistema de transporte, incapaz de fazer a circulação desses bens. Assim se justifica o clamor dos diamantinenses pelas ferrovias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-BORGES, Barsanufo Gomides. Ferrovias e Modernidade. Disponível em:
https://www.revistas.ufg.br/revistaufg/article/view/48382/23717. Acessoem 20 de janeiro de 2021.
-GALVÃO, Olímpio J. de Arroxelas. Desenvolvimento dos Transportes e Integração Regional no Brasil — Uma perspectiva histórica. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/ ppp/index.php/PPP/article/view/137. Acesso em: 24 de janeiro de 2021.
-Goodwin, James Willian. Melhoramentos Urbanos e Política Local: o jornal “A Idéia Nova”, Diamantina, MG, 1906-1910. Disponível: http://snh2007.anpuh.org/resources
/content/anais/ James%20William%20Goodwin%20Junior.pdf. Acesso em: 16 de janeiro de 2021.
-LEMOS, Marcos. O grande Tecelão. Editora Gráfica O Lutador, 1999.
-SOUZA, Ramon Feliphe. O Sertão nos Trilhos: ferrovia, ambiente e saúde no
debate sobre a integração do Norte de Minas Gerais (Diamantina, 1902 -1922).
Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/31057. Acessado: 12 de janeiro
de 2021.
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS
-Pedido que Câmara Municipal faz aos srs. drs. Antonio Olyntho e Francisco Sá.
O Municipio, Diamantina, 3 de novembro de 1985. Estrada de Ferro Systema.
O Municipio, Diamantina, 6 de agosto de 1902.