Instituto Brasileiro de Museus

Museu do Diamante

Férias no MD

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publicado: 06/07/2021 12h53, última modificação: 03/11/2022 14h50
Imagem: LITEIRA, Acervo do Museu do Diamante

Nessas férias, ainda precisamos fazer o distanciamento social e as viagens são desaconselhadas. Já que não podemos viajar no espaço, que tal fazer uma viagem no tempo e conhecer melhor como as pessoas viviam no Arraial do Tijuco nos séculos XVIII e XIX?

🧳 Arrume as malas e venha com a gente!

De 05 a 21 de julho de 2021, nas redes sociais do MD.

MINERAÇÃO

O Arraial do Tijuco se tornou, ainda no século XVIII, o maior centro de exploração dos diamantes do mundo ocidental. O Distrito Diamantino foi oficialmente fundado em 1734, quando a Coroa Portuguesa enviou alguns de seus representantes para o Arraial do Tijuco. Assim, Martinho de Mendonça Pina e Proença e Rafael Pires Pardinho vieram para o Arraial com o propósito de garantir o monopólio da extração dos diamantes.

Foi definido o Arraial do Tijuco como a sede da demarcação que tinha seus limites nos povoados de Gouveia, Milho Verde, São Gonçalo, Chapada, Rio Manso, Picada e Pé do Morro – o que poderia ser modificado com a descoberta de novas áreas de extração. A mineração era então praticada de forma manual, utilizando-se de técnicas tradicionais e utensílios diversos.

RESPOSTA:

O candeeiro (explicitar localização do candeeiro na postagem) não é um utensílio de mineração, mas sim de iluminação. Este exemplar do MD é confeccionado em bronze, do século XIX. Os candeeiros eram utilizados para a iluminação doméstica, contendo um líquido inflamável (como querosene) e um pavio.

Os demais objetos são a balança, usada no processo de mineração para pesagem do ouro e diamante; o conjunto de crivos, que contém aros de diferentes diâmetros e eram usados para medição dos diamantes; a bateia, utilizada na mineração em pequena escala, geralmente em depósitos de sedimentos de cursos d’água, e acabava por concentrar em seu fundo os minérios preciosos; e o almocafre, utilizado no garimpo manual de ouro e diamante. 

ARTE SACRA

A arte sacra constitui um importante núcleo do acervo do MD. Sabe-se que após a chegada dos europeus em solo brasileiro, a Igreja Católica foi imposta como religião oficial. A Arte Barroca, com seus valores estilísticos ligados ao luxo e à imponência, representava o anseio da Igreja Católica em afirmar seu poderio por meio da visualidade e da exacerbação dos sentidos. Dessa forma, no contexto da Contrarreforma, a Igreja investiu enormemente na ornamentação de templos e na imaginária sacra.

O chamado “Barroco Mineiro” adaptou as técnicas e preceitos estilísticos do Barroco europeu aos materiais e valores espirituais verificados nas Minas setecentistas, criando uma arte original em muitos aspectos, que foi considerada por diversos intelectuais modernistas do século XX como uma arte genuinamente brasileira e mineira.

A arte colonial mineira engendrou muitos artífices, pintores e escultores, que entraram para os cânones da História da Arte como artistas de importância fundamental para a arte nacional.

RESPOSTA:

Mestre Valentim e Caetano Luís de Miranda são originários, respectivamente, do Serro e de Diamantina. Mestre Valentim (Serro/1745 – Rio de Janeiro/1813) destacou-se no campo da escultura, arquitetura e urbanismo, tendo passado a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde executou importantes obras públicas nas áreas de saneamento, abastecimento e embelezamento urbano, como o Passeio Público. Também é executor de numerosas talhas, imagens sacras e decoração interna de templos religiosos, como a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo.

Caetano Luiz de Miranda, pintor e entalhador diamantinense (1774-1837), realizou diversas obras no Arraial do Tijuco, tendo pintado duas sibilas em 1799, para cobrir os altares da Igreja de Nossa Senhora das Mercês; a pintura do Forro da Sacristia da Igreja de São Francisco de Assis de Diamantina de 1795; as pinturas de Forro e laterais da Igreja do Bom Jesus de Matozinhos do Serro, em 1797; além da pintura da nave da Igreja Matriz de Santana em Inhaí, distrito rural de Diamantina. O MD possui ainda um oratório de sua autoria, bem ao gosto Rococó.

Já Aleijadinho (Antonio Francisco Lisboa) e Mestre Ataíde, ambos naturais da região de Vila Rica, formam um dos mais conhecidos núcleos de artistas do Barroco mineiro. Atuando, respectivamente, na escultura e na pintura, deixaram uma obra considerável na atual cidade de Ouro Preto e em diversas cidades mineiras.  

Fontes: Enciclopédia Itaú Cultural

ARAÚJO JUNIOR, Delson Aguinaldo. CAETANO LUIZ DE MIRANDA UM PINTOR ROCOCÓ NA COMARCA DE SERRO FRIO. In: Anais do XII Encontro de História da Arte – UNICAMP

OBJETOS DO COTIDIANO

Na primeira metade do século XIX, o Arraial do Tijuco já tinha uma concentração significativa da população na cidade, o que favoreceu e ampliou as possibilidades comerciais. Assessórios luxuosos retratam a opulência e uma rica economia local sustentada pelo diamante. As lojas vendiam diversos objetos refinados, conforme a influência da etiqueta francesa e a moda na Corte, onde se realçavam as pratas, os vidros e as louças de porcelana.

O requinte dos objetos vendidos no Tijuco foi observado pelo naturalista e viajante Saint- Hilaire da seguinte maneira:

 “As lojas dessa aldeia são providas de toda a sorte de panos; nelas se encontram também chapéus, comestíveis, quinquilharias, louças, vidros e mesmo grande quantidade de artigos de luxo (…). Essas mercadorias são quase todas de fabricação inglesa e são vendidas em geral por preços muito módicos, tendo-se em vista a distância e a dificuldade de transportes”.

(Viagens pelo Distrito dos Diamantes e litoral do Brasil, Auguste de Saint-Hilaire).

RESPOSTA:

A espevitadeira não faz parte deste grupo. Este objeto, que se parece com uma tesoura, é na verdade um utensílio relacionado à iluminação. Era usada para cortar o pavio das velas e atiçar-lhes a chama. Este utensílio teve função importante e amplo uso em casas ricas e modestas até o aparecimento da iluminação a gás no séc. XIX.

Os demais objetos são a cartola (1), com sua respectiva mala (2), a roca de fiar (4) e a abotoadeira de sapato (3), confeccionada em folha de prata e datada do século XIX.

ALIMENTAÇÃO

A alimentação nas Minas durante o período colonial é marcada pela versatilidade e adaptabilidade, fruto de uma fruição cultural que promoveu um diálogo entre povos de origens distintas. O Professor José Newton Coelho de Meneses, estudioso do abastecimento e das práticas alimentares nas Minas setecentistas, afirma que o fato de Minas ser uma região muito populosa e que recebeu muita migração durante o século XVIII, fez com que a culinária da região se tornasse bastante rica e diversificada.

A criatividade no aproveitamento dos ingredientes disponíveis nas Minas chamou a atenção do naturalista Auguste Sain-Hilaire, que espantou-se, por exemplo, ao experimentar o pão de inhame, que transformava um tubérculo considerado insosso numa nutritiva quitanda. O naturalista também relata a alimentação de famílias mineiras pobres do século XIX, que sabiam transformar feijão e couve em refeições bastante saborosas.

O acervo do MD conta com louças diversas de fabricação inglesa do século XIX, que contam a história dos hábitos à mesa das famílias mineiras abastadas e sua tentativa de recriar na Colônia os refinados hábitos europeus. Já o caldeirão, em contraste, expressa uma forma mais rústica e popular de alimentação, praticada pela maior parte da população mineira do período.

UTENSÍLIOS DE MONTARIA E TRANSPORTE

O tropeirismo, atividade marcante nas Minas coloniais, está associado ao processo de interiorização do país. No imenso território do interior do Brasil, por muitos séculos predominou um sistema de circulação de mercadorias feito pelas tropas (daí o termo tropeiro ou tropeirismo) que se utilizavam de muares. O muar, animal híbrido de grande resistência e rapidez, foi o veículo que desenvolveu o mercado interno brasileiro, tendo contribuído também para a integração nacional. O tropeiro foi elemento fundamental para fomentar o desenvolvimento do interior e estimular a formação de localidades que, aos poucos, se constituíram em cidades. No caso de Diamantina, mais especificamente, o tropeirismo teve importância fundamental no processo de ocupação e povoamento da região do Alto Jequitinhonha.

O tropeirismo foi uma atividade de suma relevância para a região diamantífera que convivia com a dificuldade de deslocamento devido à topografia acidentada, o distanciamento entre as regiões produtoras de gêneros alimentícios e as regiões mineradoras, o insuficiente desenvolvimento agrícola e o constante aumento populacional.

RESPOSTA:

O castiçal (mostrar onde se encontra na postagem) não é um acessório de montaria, mas sim de iluminação. Este exemplar é confeccionado em prata, ornado com motivos florais, originário da cidade do Porto (Portugal) e datado do século XIX. Com o advento da eletricidade, os castiçais, especialmente os de prata, tornaram-se objetos de adorno, usados com velas acesas nas mesas de jantar em ocasiões especiais.

As demais imagens representam as caçambas, objetos em formato de chinelos, utilizadas para o encaixe dos pés durante a montaria. Podiam ser mais rústicas, como o exemplar confeccionado em latão, ou de feitio mais delicado, como o exemplar em prata de uso feminino. Geralmente eram ornamentadas com frisos, volutas e motivos fitomorfos e florais. Havia também os estribos, peças dos arreios de montaria destinadas ao apoio do pé do cavaleiro. O exemplar da foto é confeccionado em bronze, ornamentado com o brasão das Armas da República do Brasil, com a inscrição: “Estados Unidos do Brasil – 15 de novembro de 1889”. Na imagem se vê também uma chilena, ou espora, que são instrumentos de metal, armados de um disco dentado, que se adapta à parte posterior do calçado. 

ARTIGOS DE TOALETE E HIGIENE PESSOAL

Os hábitos de higiene corporal nem sempre foram os mesmos que os adotados hoje em dia. Durante o período colonial, o abastecimento de água nas moradias era feito através dos chafarizes públicos, ou nos córregos que corriam nos quintais das famílias mais afortunadas. As bacias e gomis eram utilizadas nos rituais de higiene matinal, para lavagem das mãos e do rosto, numa época em que tomar banho não era um hábito diário, nem mesmo entre as elites.

Os hábitos de higiene pelos quais nos orientamos atualmente alcançaram maior importância a partir de meados do século XIX, quando ficou comprovado que microrganismos poderiam causar vários danos à saúde e que procedimentos simples como manter o ambiente onde se convive limpos, higienização de alimentos, banhos diários e lavar as mãos poderiam evitar as mais diversas enfermidades.

RESPOSTA:

Trata-se de uma escarradeira! O hábito de escarrar (cuspir) não era, durante os séculos XVIII e XIX, considerado anti-higiênico, como ocorre nos dias de hoje; por isso fabricavam-se utensílios luxuosos destinados a essa finalidade. O exemplar do Museu do Diamante data do século XIX e é confeccionado em porcelana de Limoges (França), uma das mais famosas e caras do mundo. A peça é ornada com uma cena campestre, na qual se vê uma figura feminina que toca um instrumento de cordas, cercada por uma paisagem bucólica.

INSTRUMENTOS MUSICAIS

A produção musical em Diamantina revela-se bastante rica já desde o século XVIII. Em decorrência da atividade mineratória, o Arraial do Tijuco atraiu um grande fluxo de pessoas que se dedicaram às mais diversas atividades, entre estas a música. A localidade passou a ser referencial artístico e centro de grande produção musical, onde uma parcela de músicos, que em sua maioria eram mestiços livres ou alforriados, se dedicaram a desenvolver sua produção artística de modo a adquirir sua independência econômica e se afirmarem culturalmente diante das elites locais. As irmandades e Ordens Terceiras da Igreja Católica representaram as primeiras instituições a financiarem a produção musical em toda a capitania mineira, contratando músicos para a execução de missas, ritos fúnebres, Te Deums, etc.

Durante os séculos XIX e XX, destacam-se as diversas bandas de música, muitas destas ligadas às corporações militares, que marcaram a cena musical e cultural da cidade e cuja trajetória se faz ecoar até os dias de hoje: segundo estudiosos, a famosa Vesperata, que é hoje em dia uma das tradições mais importantes da cidade, teve sua origem a partir de práticas verificadas em finais do século XIX, quando a 1ª Banda Militar do Estado de Minas Gerais passou a posicionar os músicos nas sacadas de diferentes edifícios do centro histórico de Diamantina.

Fonte: FERNANDES, Antônio Carlos; CONCEIÇÃO, Wander José da. La Mezza Notte: o lugar social do músico diamantinense e as origens da Vesperata. 2° edição. Dimantina: Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri, 2007. 

RESPOSTA:

Trata-se do diamantinense João Batista de Macedo, conhecido como Maestro “Piruruca”. Nascido em 1857, começa a compor já aos 12 anos de idade. Em 1833 ingressou no Corpo Policial da cidade de Ouro Preto, e em 1890 recebeu a missão de formar a Banda Militar do Estado de Minas Gerais, com sede naquela cidade. No ano seguinte foi transferido para Diamantina, integrando o 4º Corpo Militar de Polícia do Estado. Desempenhou um papel ativo na defesa dos interesses dos profissionais músicos e da valorização da atividade musical, deixando diversas composições ligadas à música de salão, além da marcha Fúnebre “Libera-me”, cujos clichês se encontram no MD.

Quando se tornou regente da Banda Militar, já instalado em Diamantina, começou a inovar durante a execução das retretas, dividindo a corporação musical em 3 partes: o corpo principal ficava no antigo Coreto Municipal, na praça ao lado da Igreja da Sé, o segundo grupo num gradil fixado na Rua Direita, e o terceiro em frente a entrada principal do prédio da Câmara Municipal. Passou a destacar músicos, juntamente com os solistas, distribuídos pelas sacadas das janelas e dos sobrados. Segundo pesquisadores, aí podem ser identificadas as origens da Vesperata.